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Notícia – Conexão Zero Estrelas: Trabalhadores de aplicativos se endividam para pagar a internet

Quando “o dia é bom”, jargão tradicional entre entregadores de aplicativo, Paulo Henrique Gomes, 27 anos, volta para casa no Jardim Jordão, periferia de Jaboatão dos Guararapes (PE), com R$ 50. A maioria dos dias, no entanto, “é ruim”, e a jornada de horas pela cidade sobre uma bicicleta termina com no máximo R$ 10. Não que faltem entregas. É que, além das taxas cobradas pelos aplicativos, que levam parte do faturamento, falta conexão de internet. “Às vezes nem vale a pena trabalhar. Se a internet estiver ruim, é só prejuízo”, conta o entregador, que atua para quatro plataformas desde junho do ano passado. 

O acesso à internet para pessoas como Paulo, que trabalham mediadas por aplicativos – como Uber, 99Pop e iFood –, é fundamental. Para custeá-lo, às vezes elas precisam escolher entre o plano de dados do celular ou pagar as contas básicas e até comprar comida. Segundo a Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR), em média 10% da renda dos trabalhadores do setor é para pagar a internet.

No caso de Paulo, um quarto da renda de R$ 500 mensais vai para o pacote de dados do celular. Ele trabalhava como bombeiro civil numa casa de shows fechada na pandemia. Renda zerada, foi para o mundo das entregas. Até março, pagava R$ 120 por 16 gigas de conexão, mais da metade do que gasta com o aluguel de R$ 200. Ele ainda tem uma dívida de R$ 115 com a operadora Tim. “Todos os dias ligam para cobrar.”

A realidade de trabalhadores como Paulo ainda é um universo quase desconhecido. Na falta de dados oficiais, coletamos informações por meio de um formulário – ainda aberto e divulgado em grupo de trabalhadores nas redes sociais e aplicativos de mensagem – para entender como motoristas e entregadores têm acesso à internet. 

Foram 83 respostas. A maioria dos profissionais – 53% – não consegue pagar um plano mensal de celular. A metade destes paga em média de R$ 20 a R$ 50 por mês. Entre quem consegue arcar com um plano pós-pago, 40% pagam entre R$ 50 e R$ 80 pelo pacote. “Se você ficar 12 horas trabalhando, são 12 horas de consumo de dados. Você pode ter tudo, sem internet, não vai para frente”, afirma o presidente da Associação Entregadores Antifascistas, Paulo Lima, o Galo. 

Embora dependa da internet para trabalhar, na casa do entregador Paulo Henrique, em Jaboatão dos Guararapes, a conexão é quase inexistente. Ele usa o wi-fi da mãe, que mora ao lado. A falta de acesso à internet também é exclusão de direitos, na opinião de Helena Martins, professora e coordenadora do Laboratório de Pesquisa em Políticas, Tecnologia e Economia da Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Para ter o auxílio emergencial, fazer a prova de vida do INSS, participar politicamente de debates, hoje é necessário estar conectado.” Motoristas e entregadores “têm o mínimo de conexão para fazer a prestação do serviço, mas não a cidadania digital”, reforça Marina Pita, coordenadora executiva do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. 

Entre os entregadores e motoristas que responderam ao questionário da reportagem, 26% não têm internet em casa. Metade porque falta dinheiro para pagar. Marina, do Intervozes, diz que isso é consequência do modelo de expansão do acesso priorizado no Brasil, via telefonia móvel e com limite da franquia. “Você garante o mínimo para pessoa consumir os aplicativos de redes sociais, então ela é audiência para publicidade vendida ali, mas não há a possibilidade de produção de conteúdo, de fazer denúncia.”

Trabalhadores são punidos por conexão precária

Motoristas e entregadores entrevistados pela reportagem afirmaram que o custo da perda de sinal na rua é, com frequência, assumido por eles. Se a internet cai, além de o cliente cancelar, as plataformas podem entender que a entrega ou corrida não foi finalizada ou que o profissional a rejeitou. Se isso acontece mais de uma vez, eles podem ter o cadastro bloqueado. 

Ricardo Santos, 21 anos, vive em Juazeiro do Norte, no Ceará. Em quatro anos de trabalho para as plataformas Bee Delivery e Alfred, já trocou quatro vezes de operadora. “Quando o pacote é barato, a cobertura não é boa”, diz. Ele tem 8 gigabytes, ligações ilimitadas e 600 SMS mensais por R$ 40. Mesmo assim, o sinal da internet oscila. 

Ricardo vive no Nordeste, região com o menor percentual de lares com internet do país, onde 66% dos usuários se conectam somente pelo celular, por meio de franquias de telefonia móvel, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2019, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Os gastos médios mensais dele somam R$ 630, valor que tira da remuneração média de R$ 1.100. Mas o apurado varia. Como as entregas diminuíram em função da pandemia, ele deixou de pagar a conta de água e pediu dinheiro emprestado para quitar o plano de dados. 

Além disso, toda vez que pega uma entrega na zona rural, Ricardo precisa se certificar de que não passará por áreas sem sinal de internet. “Já aconteceu da internet cair, eu ficar perdido, sem GPS. O cliente reclamou no aplicativo e eu perdi a entrega”, lembra.

A falta de cobertura também é realidade em outras regiões. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em 2019 foram 377.296 queixas relacionadas à qualidade da internet móvel em celulares pré-pagos no Brasil. Em 2020, o número saltou para 438.579. No ano passado, problemas relacionados à conexão, fixa ou móvel, foram mais relatados nos estados de São Paulo, com 36,1 mil, seguido do Rio de Janeiro, com 24,3 mil, e Minas Gerais, com 13,91 mil. 

Trabalhadores podem recorrer às empresas em caso de problemas de conexão, mas nem sempre conseguem o perdão das dívidas. Eles se queixaram, também, de que a queda de sinal contribui para fazê-los descer nos rankings das plataformas e limitar o envio de novas corridas. As empresas negam. O iFood respondeu que “existem diferentes fatores de desempate para receber um pedido, como a disponibilidade do entregador ou entregadora e o seu histórico no aplicativo”.

Já a Uber afirmou que “o entregador é orientado a entrar em contato com via chat da Uber Eats, se ocorrer algum problema”. Porém, “se a empresa entender que há indícios de má-fé ou abuso da política de uso, a conta pode ser desativada”. A 99 afirmou que “a falha na internet não resulta no cancelamento da corrida ou da entrega”. No delivery, se o entregador não registrar a retirada no restaurante, “o pedido é redirecionado para outro, sem qualquer penalidade”. 

Aplicativos não custeiam internet para evitar vínculos

Para as associações de entregadores, os custos de internet deveriam ser das plataformas. A procuradora do Ministério Público do Trabalho de Pernambuco (MPT-PE) Vanessa Patriota faz parte de um núcleo que acompanha a “uberização” do trabalho. Ela diz que as corporações não fornecem pacote de dados para evitar vínculo empregatício. “A empresa alega que os meios de produção são dos trabalhadores, por isso são autônomos”. Mas o entendimento do MPT-PE é que há uma relação de trabalho porque “quem tem os dados, portanto, o poder, é a empresa”. 

Até 2019, 4 milhões de pessoas, em média, trabalhavam para aplicativos no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número aumentou na pandemia. Entre março e junho de 2020, o iFood, por exemplo, recebeu 480 mil novos cadastros. Um total de 4% dos usuários de internet com mais de 16 anos trabalha como entregadores de aplicativos e 4%, como motoristas de apps, mostra a terceira edição da pesquisa TIC Covid-19, que investigou o teletrabalho na pandemia. 

Essas pessoas trabalharam mais e ganharam menos, segundo pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e das universidades federais do Paraná (UFPR) e de Juiz de Fora (UFJF). Cerca de 52% dos trabalhadores passaram a atuar sete dias na semana, ganhando geralmente R$ 260 no período.

“Ou você come ou paga a internet”

Formado em gestão financeira e pós-graduado em gestão empresarial, Wellington Ferreira, 28 anos, começou a trabalhar como motorista da Uber em 2019. Quando a pandemia chegou, o salário dele caiu de R$ 5 mil para R$ 1,5 mil por mês, e o gasto com telefonia móvel subiu de R$ 130 para R$ 170 mensais. O aluguel, de R$ 700, levava metade da renda. “Ou você come ou paga a internet”, conta Wellington, que recorreu a grupos de Facebook para tentar encontrar planos mais baratos. 

A necessidade estimula um mercado paralelo de venda de planos para entregadores. No grupo de WhatsApp “iFood/Rappi/Uber Eats PE”, um convite do plano “TIM Beta” era oferecido a R$ 100 em abril deste ano. Em outro grupo de WhatsApp, “ativação 100gb [gigabytes] da Oi”, o vendedor promete internet ilimitada, “sem fidelidade, sem dor de cabeça”, por R$ 50. A Tim informou que a prática de venda de convites de “TIM Beta” “não é incentivada pela operadora”. A Oi afirmou que “não pratica esse tipo de ação”. 

Nos grupos de Facebook, Wellington conseguiu pagar R$ 50 por 60 gigabytes mensais. Porém, ele tem dois chips de operadoras diferentes e a cada 30 dias recarrega R$ 70 em um da Vivo para evitar queda de sinal. 

A ausência de cobertura durante as entregas já causou prejuízos e risco. A situação mais grave ocorreu em 2019. Por volta das 20 horas de um domingo, ele aceitou uma corrida com destino à cidade de São Caetano (SP). Levava uma passageira e, no meio do caminho, perdeu o sinal. Entrou em uma rua e, de repente, dois homens se aproximaram, apontaram a arma e perguntaram o que ele fazia ali. “A sorte é que um rapaz, do carro de trás, tirou a cabeça para fora e disse para deixar a gente.” Depois disso, parou de rodar à noite.

No formulário criado para esta reportagem, um em cada três entregadores e motoristas afirmou já ter passado por uma situação de perigo na rua por falta de sinal de internet. “Fui fazer a entrega, chegando lá o GPS parou. Me perdi e não achava a rua, aí me pararam e perguntaram por que eu tava ali. Os caras gritavam, mas no final consegui sair”, relatou um deles. 

Ainda assim, as discussões sobre acesso à internet para trabalhadores de aplicativos ainda não ganharam tanto eco. As principais pautas da categoria, hoje, giram em torno da precarização do pagamento e da falta de suporte. Embora a internet seja um dos elementos de precarização porque, sem ela, não há sequer trabalho. “Imagine, você tem uma coisa cortando sua perna, outra arranhando suas costas. Você vai focar no que cortar sua perna”, explica Paulo Galo, liderança do movimento de entregadores antifascistas. 

Internet como instrumento de controle e precarização

Em janeiro deste ano, a Uber lançou, em parceria com a Surf Telecom, o primeiro chip pré-pago desenvolvido para motoristas “parceiros”. O plano oferece 9 gigas de internet por mês e está disponível atualmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. O preço varia de acordo com a categoria dos trabalhadores na plataforma. Se forem “diamante”, hierarquia mais alta, pagam R$ 20. Se “platina” e “ouro”, intermediários, pagam R$ 25 e R$ 30, respectivamente. Já se forem “azuis”, a categoria mais baixa, o plano custa R$ 35.

O serviço foi apresentado aos trabalhadores, por meio de uma videochamada, em janeiro. “A gente fez um exercício de entender onde é que estão os principais gastos, qual é a coisa que mais custa dinheiro para um parceiro estar ativo nas plataformas, e o Uber Chip nasce para atender a essa demanda”, explicou a diretora-geral da Uber no Brasil, Claudia Woods. O serviço oferece ligações ilimitadas e isenção de gasto de dados na navegação do Uber Driver, aplicativo dos motoristas, Waze e WhatsApp. 

De dezembro do ano passado até abril deste ano, a Anatel recebeu oito reclamações que mencionam o Uber Chip – duas delas por problemas no acesso à internet. Das oito reclamações, cinco ocorreram em abril deste ano. Pesquisadores que estudam “plataformização” ou “uberização” do trabalho no Brasil apontam que o serviço pode ser interpretado como mais uma forma de controle das relações trabalhistas. “No dia a dia, há mesmo o benefício de pagar menos, mas a pessoa terá que se engajar mais para pagar menos”, explica Ludmila Costhek Abílio, pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp. 

“O que temos é um contrato unilateral em que você tem que bancar tudo – chip, telefone, um bom plano de dados. É uma obrigação”, avalia o motorista Samuel de Almeida, 52 anos, que começou a trabalhar com aplicativos em 2017. Ele usa o Uber Chip há dois meses e, como está na categoria “azul” – a mais baixa na plataforma –, paga R$ 35 por mês. A conclusão dele, até agora, é que a novidade falseia melhores condições de trabalho. “Quanto mais fiel à empresa, e mais bem avaliado for o motorista, mais vantagens.”

Até então, o Uber Chip está disponível apenas para motoristas selecionados pela empresa. Samuel tem um canal no YouTube, o Falando de Uber, em que conta a rotina na plataforma. Não foi escolhido à toa para testar a tecnologia. Mas é crítico, sobretudo ao fato de precisar ser “diamante” (categoria mais elevada, para quem faz mais entregas) para pagar menos. “Quem é o ‘diamante’? O cara que arrisca sua vida. Sou questionador e acho que muitas coisas são absurdas”, diz. 

A 99, empresa concorrente da Uber, afirmou que está em negociação para disponibilizar descontos em telefonia móvel aos entregadores “em breve”. Para quem estuda esse modelo de trabalho, um chip, no entanto, não é o suficiente para reverter a precarização. O caminho para evitar abusos deveria ser a regulamentação. “O trabalhador, absorvendo ou não o discurso das plataformas, enxergando ou não isso como única forma de trabalho, acaba sendo vítima do mecanismo”, ressalta Ludmila Abílio. 

Segundo a pesquisadora, as plataformas transferem para o trabalhador parte do gerenciamento das rotinas, dando falsa ideia de autonomia. “Só que é um gerenciamento subordinado, transfiro para você o gerenciamento do tempo. Não me importa mais quantas horas você trabalha, mas se você entregou o trabalho e o prazo.” Um dos problemas está no “gerenciamento algorítmico”. Rafael Grohmann, professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e coordenador no Brasil do projeto Fairwork, lembra: “A plataforma é ao mesmo tempo uma empresa, um software e uma infraestrutura digital. Esse ecossistema envolve a coleta de dados sobre trabalhadores e consumidores”. Dados esses que favorecem a indução de comportamentos, como trabalhar mais para ter mais benefícios. “Há a possibilidade de mapear as dinâmicas, as decisões do trabalhador e as demandas”, explica Ludmila. De acordo com Sidnei Machado, professor da Clínica de Direito do Trabalho da UFPR, a regulamentação do trabalho em aplicativos tem que passar pelo reconhecimento desse tipo de trabalhador como assalariado. “Eles foram trabalhadores essenciais na pandemia, mas não tiveram uma proteção mínima da sociedade.” Atualmente, tramita no Senado um projeto de lei (PL 974/2021) que concede direitos trabalhistas para motoristas e entregadores de aplicativos.

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Reflexão sobre o papel dos sindicatos na atualidade

Em seminário recente, organizado pela UNI Global Union (24/09/2020), e veiculado pela internet, o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, ao discorrer sobre o contexto da pandemia nos EUA, surpreendeu a muitos ao ressaltar a importância dos sindicatos: “os sindicatos defenderam seus trabalhadores. O resultado é que, onde havia sindicatos, havia mais máscaras, mais equipamentos de proteção individual. […]. Essas experiências bastam para mostrar a importância, o papel crítico que os sindicatos desempenharam na gestão da crise sanitária.”

Ao falar também sobre as consequências da pandemia no que diz respeito ao aumento do desemprego, Stiglitz identificou as dificuldades do processo de negociação coletiva, com a queda nos salários e a necessidade dos trabalhadores de aceitarem cortes. E concluiu, “a única proteção contra esse tipo de exploração são os sindicatos.”

A surpresa está no fato de que esse tipo de valorização e reconhecimento não está muito em voga atualmente. Por um lado, na conformação neoliberal do capitalismo, não há espaço para a instituição sindical. Nos últimos anos, são recorrentes as campanhas e ações sistemáticas de desconstrução da ação coletiva e da legislação laboral. Por outro lado, as críticas à ação sindical, no Brasil e no exterior, vão na direção de apontar a sua dificuldade ou incapacidade em perceber alterações significativas no mundo do trabalho. As práticas sindicais parecem desatualizadas frente às demandas de uma força de trabalho cada vez mais diversa (gênero, cor, idade e geografia do trabalho). Além disso, o sindicato representa o trabalhador formal que, no Brasil, corresponde a menos da metade de todo o mercado de trabalho.

As dúvidas desse debate estão relacionadas à capacidade da instituição sindical de se reinventar para atuar nesses novos contextos, agravados pela pandemia do coronavírus.

Constituídos nos primórdios do capitalismo com o objetivo de representar os trabalhadores, os sindicatos tem uma longa história já consolidada de organização e de defesa dos interesses dos que vivem do trabalho. Seguem como referência mesmo nos contextos desfavoráveis associados a mudanças do sistema econômico e as estratégias das empresas. A instituição pode ser vista com uma trajetória marcada por descontinuidades e crises frente aos desafios permanentes colocados pelo processo de acumulação capitalista.

Na mais recente fase da globalização da economia, os sindicatos, com uma tradição e uma prática de lutas construídas ao longo dos séculos XIX e  XX, no bojo do desenvolvimento do setor industrial de características fordistas, se viram confrontados por um processo de reestruturação produtiva  que flexibilizou as relações de trabalho, incentivou a subcontratação e precarizou os laços de emprego.

A diversidade do mercado de trabalho, e o uso sistemático da tecnologia da informação, especialmente com a utilização das plataformas digitais, trouxeram problemas adicionais para a representação sindical.

Na verdade, os sindicatos passaram a enfrentar uma oposição reforçada pela combinação de políticas não intervencionistas dos Estados Nacionais, com a nova lógica de acumulação das empresas. Se viram atacados no campo do debate político e enfrentaram uma onda de retirada de direitos e legislação de proteção do trabalho e de endurecimento nas negociações salariais.

No Brasil, a reforma trabalhista de 2017 dedicou boa parte de suas decisões na direção de inviabilizar a atividade sindical: fim do imposto sindical, contratos precários que afetam “a base de representação dos sindicatos, historicamente ancorada nos assalariados formalizados, aumentando o percentual de trabalhadores não filiados a sindicatos e não cobertos por convenções e acordos coletivos” (Campos, 2020) e; acesso limitado  à Justiça do Trabalho (Cardoso, 2020, Krein et al 2019, Galvão, 2019, Site Remir-Trabalho, 2020; entre outros).

Embora seja evidente e explícita a estratégia declarada de destruição da organização sindical e do seu repertório de resistência, a culpa pelas dificuldades, na maioria das vezes, tem recaído sobre as próprias entidades e seus dirigentes. A começar pela fragmentação artificial da representação, o que faz com que o país tenha um número enorme de entidades registradas, burocratizadas, a maioria delas sobrevivendo com os recursos de um imposto sindical que deixou de existir em 2017.

Levando-se em conta que os sindicatos representam os trabalhadores formais e os servidores públicos com carteira assinada, fica evidente que uma grande parte da força de trabalho, envolvida nas atividades sem registro, não tem quem a defenda formalmente. O mesmo se coloca para o desempregado. O setor organizado e ativo do sindicalismo brasileiro se concentra em macro setores da economia, e mesmo contando com uma história expressiva de lutas por melhores salários e direitos nas últimas décadas, sofre com as mudanças frequentes dos processos de trabalho, dos usos da tecnologia e dos meios de controle sobre a produção.

Dirigentes sindicais que são conscientes dessas dificuldades, tem muitas vezes se sentido incapazes de se renovar nesse contexto. Na maioria das vezes o que surge é um lamento quanto à ausência de trabalhadores jovens nas atividades sindicais; que falta aquela identidade de classe que teria existindo em lutas coletivas do passado, e que agora prevalece o individualismo. Percebem-se as dificuldades de lidar com a concepção largamente difundida e incorporada do indivíduo empreendedor. O empreendedorismo funcionaria como a antítese do espírito de coletivo que tradicionalmente marcou as atividades sindicais e isso tem sido motivo de perplexidade e em certo sentido de inação.

De fato, como afirma Laval, em entrevista recente (2019), “as mudanças no mundo do trabalho sob hegemonia neoliberal apontam que as saídas para os problemas são responsabilidade de cada indivíduo. Enfraquece a solidariedade de classe e, portanto, as ações coletivas e a consciência de classe. O nível de consciência dos trabalhadores não é nem o produto automático do seu lugar no processo de produção, nem resulta automaticamente da sua experiência. Resulta de um conjunto de fatores muito mais complexos e é a sua interação que permite explicar as razões de um nível de consciência numa época determinada, num lugar determinado”.

Mesmo diante desse quadro de grandes dificuldades, de uma pandemia e de uma perseguição implacável por parte das empresas e do Estado, a instituição sindical sobrevive, demonstra resiliência, assim como coloca em sua agenda o apoio e a associação a novas formas de representação e defesa dos trabalhadores.

São exemplos simples, mas sólidos, como a constatação do DIEESE (2020) em um dos seus últimos boletins de análise de conjuntura: “os trabalhadores vêm provando certo poder de resistência nas negociações salariais de 2020, diante da grave situação econômica nacional[…]”. O DIEESE “analisou 4.938 reajustes salariais de categorias com data-base entre janeiro e agosto de 2020, registrados até a primeira quinzena de setembro. Os dados mostram que cerca de 43% dos reajustes resultaram em aumentos reais aos salários, 29% em acréscimos iguais à inflação e 28% em perdas reais, com base na variação da inflação desde o último reajuste de cada categoria pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)”, do IBGE. “

Embora ainda incipientes por sua novidade, já há também vários exemplos da criação de associações com formato sindical organizados em vários países do mundo, até mesmo de setores marcados pela informalidade como é o caso das plataformas digitais.

Na verdade, todo o debate sobre a ação sindical reflete a importância de se discutir a solidariedade, que é uma marca registrada do sindicalismo ao longo da história do capitalismo. E como dizem repetidamente Gumbrell McCormick e Hyman ( 2013, 2019), solidariedade não é uma prática que se reproduz automaticamente; é um processo de construção permanente, com idas e vindas, com vitórias e derrotas. Em um mundo globalizado, o que se coloca é a construção de uma “solidariedade apesar da diferença”, que leva em consideração a diversidade da inserção no trabalho. Nessa direção, a dimensão internacional se torna um campo decisivo de construção de solidariedades: “[…]qualquer fechamento no espaço nacional é suicida. A força do capital reside na sua mobilidade transnacional. A força do trabalho, sobre a unidade global dos trabalhadores”. (Laval, 2019).

Em resumo,  uma leitura cética sobre as perspectivas da instituição sindical no mundo de hoje, muitas vezes referida a um passado heroico idealizado, corre o risco de minimizar sinais da resiliência que se manifestam em momentos e contextos variados, e que, a partir de agora, incorporam a forte interveniente do período pandêmico sobre os trabalhadores.

Está claro que qualquer processo de transformação da instituição sindical é complexo e exige sacrifícios e atitudes políticas mais ousadas de reformulação de sua estrutura interna e de sua atuação na sociedade. Afinal, organização e a ação coletiva sempre variaram ao longo da história. A mudança agora exige uma necessária autocrítica, e a percepção de que novas práticas precisam ser experimentadas.

A luta cotidiana por direitos, empregos e salários, permanece sendo a base fundamental, mas talvez seja a hora de o movimento sindical  aumentar o volume da contestação e das denúncias contra as recorrentes e violentas práticas antisindicais  e antidemocráticas adotadas por governos e empresas de todos os tamanhos, especialmente as multinacionais, e implementadas em vários lugares do mundo. A globalização permite articulações internacionais, e a construção por parte dos sindicatos de novas solidariedades passa a ser o seu mais importante desafio.

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Medida provisória traz regras para o pagamento do novo auxílio emergencial

A Medida Provisória 1039/21 traz as regras para o pagamento do auxílio emergencial em 2021 para pessoas em situação de vulnerabilidade devido à pandemia de Covid-19.

Agora serão quatro parcelas mensais de R$ 250 destinadas aos beneficiários do auxílio emergencial pago em 2020, considerada a lista em dezembro. No caso da mulher provedora de família monoparental, a parcela mensal será maior, de R$ 375; na hipótese de família unipessoal, o valor será menor, de R$ 150.

O auxílio emergencial em 2021 foi viabilizado pela Emenda Constitucional 109promulgada nesta semana. Foram liberados até R$ 44 bilhões para o benefício, montante fora da regra do teto de gastos, das restrições para endividamento da União (“regra de ouro”) e da meta de superávit primário das contas públicas.

No ano passado, foram pagas duas rodadas de auxílio emergencial, com cinco parcelas de R$ 600 mensais e, depois, quatro de R$ 300. Mulheres chefes de família receberam em dobro, e mais de uma pessoa por família teve direito à ajuda. O governo gastou R$ 293 bilhões com 68,2 milhões de pessoas.

A MP foi publicada nesta quinta-feira (18), em edição extra do “Diário Oficial da União”, junto com outras duas medidas provisórias que abrem créditos extraordinários, no valor de quase R$ 43 bilhões, para pagamento do auxílio de abril a julho (MPs 1037/21 e 1038/21). Segundo o governo, nessa etapa serão beneficiadas 45,6 milhões de pessoas.

Regras atualizadas


O recebimento do auxílio emergencial será limitado a uma pessoa por família – se já for atendida pelo Programa Bolsa Família, terá direito ao benefício de maior valor. A renda familiar total deverá ser de até 3 salários mínimos (R$ 3.300), respeitado ainda o limite per capita de até 1/2 salário mínimo (R$ 550).

Não terá direito quem recebeu, em 2019, rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 ou teve rendimentos isentos, não tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte superiores a R$ 40 mil; tenha bens em montante total acima de R$ 300 mil; more no exterior; ou esteja preso em regime fechado.

O beneficiário deverá ter mais de 18 anos, exceto se for mãe adolescente; não deve ter vínculo de emprego formal na iniciativa privada e no serviço público; e não pode ter sido incluído em 2019 como dependente no Imposto de Renda – cônjuge ou companheiro e filho ou enteado (até 21 anos ou estudante até 24).

Estão fora ainda o estagiário; o residente médico ou residente multiprofissional; e os beneficiários de bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ou de órgão público municipal, estadual, distrital ou federal.

Por fim, não terão direito as pessoas que recebem outros benefícios federais ou constam como instituidor de pensão por morte; tiverem indicativo de óbito nas bases de dados do governo federal; ou não tenham movimentado as contas bancárias que receberam auxílio emergencial durante o ano passado.

Detalhamento

Conforme a MP 1037/21, o auxílio emergencial partirá da emissão de quase R$ 42,6 bilhões em títulos públicos. Já a MP 1038/21 prevê, a partir de receitas com concessões e permissões, R$ 384 milhões para custeio e R$ 10 milhões para servidores do Ministério da Cidadania e da Advocacia-Geral da União.

Do total, R$ 23,4 bilhões serão destinados ao público já inscrito em plataformas digitais da Caixa (28.624.776 beneficiários); R$ 6,5 bilhões para integrantes do Cadastro Único do Governo Federal (6.301.073 beneficiários); e R$ 12,7 bilhões para pessoas atendidas pelo Programa Bolsa Família (10.697.777 beneficiários).

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Piauí registrou 1.063 casos e 23 óbitos por Covid-19 em 24 horas

O Piauí registrou 1.063 casos e 23 óbitos por Covid-19 em 24 horas, segundo boletim divulgado pela Secretaria estadual de Saúde (Sesapi), na noite desta terça-feira (16). Com a atualização, o estado já contabilizou 187.960 diagnósticos e 3.697 mortes pela doença desde o início da pandemia.

Das novas pessoas diagnosticadas com a infecção, 608 são do sexo feminino e 455 do sexo masculino, com idades que variam de um mês a 94 anos. Os óbitos registrados foram de dez mulheres e treze homens.

As mulheres eram das cidades de Barras (86 anos), Bom Jesus (57 anos), Esperantina (75 anos), Ilha Grande (64 anos), Luís Correia (50 anos) e Teresina (50, 51, 68, 74 e 83 anos).

E os homens eram de Bom Jesus (82 anos), Floriano (63 anos), Oeiras (37 anos), Parnaíba (88 anos), Picos (64 anos), Piracuruca (86 anos) e Teresina (52, 57, 65, dois de 70 anos e dois de 76 anos). Cinco vítimas não possuíam comorbidades.

Todas as cidades do Piauí registraram casos de Covid e 215 municípios tiveram óbitos pela doença.

Dos leitos existentes na rede de saúde do Piauí para atendimento à Covid-19, há 1152 ocupados, sendo 721 leitos clínicos, 378 UTIs e 53 em leitos de estabilização. Na capital, há risco de colapso no sistema de saúde.

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Força Sindical realiza conferência internacional em comemoração aos 30 anos da entidade

Os Temas da Conferência serão “Impactos da pandemia COVID 19, a luta e perspectivas para os trabalhadores/as, e a importância do desenvolvimento sustentado para o Brasil, as américas e o mundo”.

Vale ressaltar que teremos a participação de representantes sindicais da Ásia, África, Europa e das Américas, além dos dirigentes nacionais das entidades e setores filiados a nossa Central.

O evento terá transmissão ao vivo pelo Youtube, Facebook, e nas redes sociais internacionais da Alternativa Democrática Sindical das Américas  (ADS).

Para confirmar presença entre em contato através do e-mail: secgeral@fsindical.org.br / secinter1@fsindical.org.br e através dos telefones: (11) 9 9872 1878 (Ortélio) e (11) 3348-9003 (Marisa).

O Link e senha de acesso a Conferência Internacional será enviado aos participantes, conforme a confirmação da participação dos interessados.

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Centrais Sindicais se reúnem com João Dória e defendem vacina e apoio aos trabalhadores paulistas

As Centrais Sindicais participaram nesta segunda-feira de uma reunião com o Governador João Doria na sede do Governo paulista, no Morumbi. Além do Presidente da CSB, Antonio Neto, e do Governador participaram da conferência Sérgio Nobre (CUT), Miguel Torres (Força Sindical), Ricardo Patah (UGT), Adilson Araújo (CTB) e Nailton de Souza (NCST), o encontro também contou com a participação da secretária de desenvolvimento econômico do estado, Patrícia Ellen.

Os representantes das Centrais Sindicais iniciaram a reunião prestando solidariedade ao Governador e aos seus familiares pelos ataques e ameaças sofridas por apoiadores extremistas do Presidente Jair Bolsonaro.

Entre os pontos comuns apresentados ao Governador Dória estão a defesa intransigente da vacinação, o apoio estrutural dos sindicatos para a imunização, o apoio político do Governador para a aprovação do auxílio emergencial em 600 reais e as medidas de restrição que visam a proteção da vida e da saúde, sobretudo, dos trabalhadores.

Em sua intervenção, o presidente da CSB apresentou propostas para a contenção da pandemia como: a suspensão do rodízio dos automóveis durante as fases mais restritivas, escalonamento de horário dos setores produtivos para desafogar o sistema de transporte público, instalação de dispensadores de álcool em gel ou espuma higienizadora no transporte público estadual, medidas de apoio ao setor artístico, cultural e de eventos, e a criação de um selo de boas práticas, como o criado no estado do Ceará pelo Governo Camilo Santana.

“Nós somos adversários políticos, mas não somos inimigos. Todos nós temos dois inimigos que nos une: o combate ao coronavírus e o vírus da negacionismo, que é Jair Bolsonaro. Conte com o movimento sindical sempre em que a vida e a ciência falarem mais alto”, emendou Antonio Neto.

Neto também defendeu o apoio ao setor de bares, restaurantes e quiosques de praia, além de amparo aos taxistas com a isenção do IPVA 2021.

O Governador se mostrou disposto na implantação e discussão das medidas e assinalou uma reunião das Centrais Sindicais e dos setores patronais para ainda esta semana sob coordenação do Governo do Estado de SP.

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Sem trabalho ou auxílio, milhões de brasileiros podem perder acesso aos benefícios do INSS

A pandemia, que acaba de completar um ano, e a crise econômica prolongada pelas dificuldades em conter o avanço da Covid deixaram quase 14 milhões de brasileiros sem trabalho. Esses milhões que não têm emprego e não recebem mais o auxílio emergencial correm agora o risco de perder o direito aos benefícios da Previdência Social, como auxílio-doença, salário-maternidade, auxílio-reclusão e pensão por morte. Seguro-desemprego: Reforma deve incluir redução progressiva no valor da parcela Quem deixa de recolher a contribuição ao INSS por mais de 12 meses perde esses seguros, e muitos informais não conseguem encaixar esse pagamento nas despesas do mês. É o caso de Fernanda Cristina de Azevedo, de 40 anos e mãe de cinco filhos, que não contribui para o INSS desde que foi demitida do hospital onde era auxiliar de serviços, em junho de 2019. Ela passou a trabalhar como diarista e cuidadora de idosos para cobrir as despesas da família, mas, com a pandemia, ficou difícil manter os bicos. A renda, que já havia diminuído na informalidade, despencou. O auxílio emergencial cobriu aluguel e gastos com alimentação até dezembro: — A gente se sente desprotegido por não conseguir contribuir mais com o INSS. A sensação é que pode acontecer alguma coisa e a gente não vai ter pra onde ir porque não tem como pedir (um benefício). Sem ter a quem recorrerSegundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, referentes ao último trimestre de 2020, pelo menos 4 milhões de pessoas podem ter deixado de contribuir ao INSS no ano passado, considerando apenas trabalhadores, inclusive domésticos, com carteira assinada que perderam o emprego. Entre aqueles sem carteira, que poderiam contribuir como autônomos, mais de 3 milhões passaram à desocupação. — São milhões de pessoas que já perderam ou estão prestes a perder a condição de segurados, e não terão a quem recorrer se tiverem uma invalidez no meio do caminho — lamenta Gilvan Cândido, professor da FGV Educação Executiva de Previdência. Ele acredita que só haverá uma melhora, mesmo tímida, em 2022, se o governo conseguir vacinar pelo menos 70% da população ainda este ano: — O processo de retomada do emprego não vai ser tão rápido e, provavelmente, começará pelo trabalho informal, mas tudo dependerá também de como as vacinas responderão. A cozinheira Cintia Reis, de 47 anos, sustenta os dois filhos vendendo salgados por encomenda. Ela teme não conseguir se aposentar, pois não contribui para o INSS desde que perdeu o emprego em uma lanchonete, em maio do ano passado: — Dá um aperto no peito, sempre tive medo de não conseguir me aposentar. Com a pandemia, tenho medo de morrer antes. Mas vou lutar pra conquistar meus objetivos. Tenho filhos, preciso mostrar o lado bom em certas situações. Dados do Boletim Estatístico da Previdência Social mostram queda de 3% na arrecadação bruta em 2020 frente ao ano anterior. É a primeira retração desde 2015, quando o país estava em recessão. O baque do ano passado foi menor, segundo João Saboia, professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ, devido às medidas adotadas pelo governo federal para manter os empregos com carteira, como a suspensão dos contratos de trabalho e a redução de jornada e salário: — A desocupação foi muito grande entre os trabalhadores informais, que contribuem menos à Previdência do que aqueles com carteira assinada. Para autônomos e empregados, a proteção do INSS tem validade de 12 meses a partir da última contribuição. Ou seja, para quem parou de recolher à Previdência no início da pandemia, esse prazo chegou ao fim, e essas pessoas já estão desprotegidas. Se o trabalhador estiver buscando emprego, o prazo dobra, para 24 meses. E se contribuir há mais de dez anos, são 36 meses. Já para os contribuintes facultativos, como donas de casa e estudantes, por exemplo, a condição de segurado só se estende por seis meses após a última contribuição. Carência para benefícioPor isso, a recomendação é continuar recolhendo ao INSS, mesmo que seja apenas uma vez a cada seis meses, para manter o direito aos benefícios, explica Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP): — Para quem perdeu a condição de segurado, é preciso cumprir metade do período de carência exigido para voltar a ter direito aos benefícios. Já quem mantém a qualidade de segurado e havia cumprido a carência pode pedir o benefício quando precisar. No caso dos autônomos, por exemplo, em que o prazo para manter a condição de segurado é de 12 meses, a nova contribuição deve ser feita no 11º mês depois do último recolhimento. A partir daí, deve-se pagar a contribuição a cada seis meses, já que o trabalhador passará a recolher como facultativo. O valor da contribuição, porém, terá impacto no cálculo da aposentadoria: — O trabalhador pode recolher como facultativo sobre 11% ou 20% e sobre um salário mínimo ou mais. Mas os 11% dão direito apenas à aposentadoria por idade, e caso a nova contribuição seja sobre um salário menor, isso diminuirá o valor da aposentadoria — diz o advogado Luiz Felipe Veríssimo, especialista em Direito Previdenciário. Apesar do cenário de crise, técnicos do governo não cogitam alterar os parâmetros de carência do INSS. A avaliação interna é que mexer na lei seria uma mudança estrutural da legislação, enquanto a pandemia é um problema conjuntural. Há um entendimento de que, caso os prazos fossem ampliados, seria difícil voltar às regras mais duras, e a flexibilização acabaria se tornando permanente. Informais ficarão sem emprego e sem auxílioO teto de R$ 44 bilhões para a nova rodada do auxílio emergencial deixará de fora uma parcela de trabalhadores informais. De acordo com o governo, o benefício será pago a apenas um membro da família, no valor de R$ 250, durante quatro meses. Mulheres com filhos terão direito a uma cota maior, de R$ 375. Já pessoas que moram sozinhas receberão apenas R$ 150. No ano passado, foram pagas cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300, beneficiando 67 milhões de pessoas, a um custo de R$ 350 bilhões. Na nova rodada, devem ser mantidos os mesmos critérios de renda para ter direito ao auxílio: meio salário mínimo por pessoa da família (R$ 550) e até três salários mínimos (R$ 3,3 mil). Os dois requisitos serão aplicados de forma conjunta, ou seja, uma família de três pessoas com renda conjunta de três salários mínimos não poderá ser beneficiada, pois a renda individual, nesse caso, é superior a R$ 550 per capita. Segundo cálculos do movimento Renda Básica que Queremos, um em cada quatro brasileiros que receberam o benefício em 2020 não terão acesso os recursos este ano. A estimativa é que 17 milhões fiquem sem assistência no momento de piora da pandemia. Para a economista e professora da UFF Julia Braga, a tendência é o desemprego crescer e haver mais desassistidos: — Há uma parcela de pessoas que, se não estiver na nova rodada, vai estar desprovida de qualquer proteção social e tampouco conseguirá emprego formal. A taxa de desemprego continuará em dois dígitos nos próximos anos, porque os que antes não estavam procurando devem voltar a procurar. (Colaboraram Carolina Nalin e Geralda Doca) 

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Sem trabalho ou auxílio, milhões de brasileiros podem perder acesso aos benefícios do INSS

A pandemia, que acaba de completar um ano, e a crise econômica prolongada pelas dificuldades em conter o avanço da Covid deixaram quase 14 milhões de brasileiros sem trabalho. Esses milhões que não têm emprego e não recebem mais o auxílio emergencial correm agora o risco de perder o direito aos benefícios da Previdência Social, como auxílio-doença, salário-maternidade, auxílio-reclusão e pensão por morte. Seguro-desemprego: Reforma deve incluir redução progressiva no valor da parcela Quem deixa de recolher a contribuição ao INSS por mais de 12 meses perde esses seguros, e muitos informais não conseguem encaixar esse pagamento nas despesas do mês. É o caso de Fernanda Cristina de Azevedo, de 40 anos e mãe de cinco filhos, que não contribui para o INSS desde que foi demitida do hospital onde era auxiliar de serviços, em junho de 2019. Ela passou a trabalhar como diarista e cuidadora de idosos para cobrir as despesas da família, mas, com a pandemia, ficou difícil manter os bicos. A renda, que já havia diminuído na informalidade, despencou. O auxílio emergencial cobriu aluguel e gastos com alimentação até dezembro: — A gente se sente desprotegido por não conseguir contribuir mais com o INSS. A sensação é que pode acontecer alguma coisa e a gente não vai ter pra onde ir porque não tem como pedir (um benefício). Sem ter a quem recorrerSegundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, referentes ao último trimestre de 2020, pelo menos 4 milhões de pessoas podem ter deixado de contribuir ao INSS no ano passado, considerando apenas trabalhadores, inclusive domésticos, com carteira assinada que perderam o emprego. Entre aqueles sem carteira, que poderiam contribuir como autônomos, mais de 3 milhões passaram à desocupação. — São milhões de pessoas que já perderam ou estão prestes a perder a condição de segurados, e não terão a quem recorrer se tiverem uma invalidez no meio do caminho — lamenta Gilvan Cândido, professor da FGV Educação Executiva de Previdência. Ele acredita que só haverá uma melhora, mesmo tímida, em 2022, se o governo conseguir vacinar pelo menos 70% da população ainda este ano: — O processo de retomada do emprego não vai ser tão rápido e, provavelmente, começará pelo trabalho informal, mas tudo dependerá também de como as vacinas responderão. A cozinheira Cintia Reis, de 47 anos, sustenta os dois filhos vendendo salgados por encomenda. Ela teme não conseguir se aposentar, pois não contribui para o INSS desde que perdeu o emprego em uma lanchonete, em maio do ano passado: — Dá um aperto no peito, sempre tive medo de não conseguir me aposentar. Com a pandemia, tenho medo de morrer antes. Mas vou lutar pra conquistar meus objetivos. Tenho filhos, preciso mostrar o lado bom em certas situações. Dados do Boletim Estatístico da Previdência Social mostram queda de 3% na arrecadação bruta em 2020 frente ao ano anterior. É a primeira retração desde 2015, quando o país estava em recessão. O baque do ano passado foi menor, segundo João Saboia, professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ, devido às medidas adotadas pelo governo federal para manter os empregos com carteira, como a suspensão dos contratos de trabalho e a redução de jornada e salário: — A desocupação foi muito grande entre os trabalhadores informais, que contribuem menos à Previdência do que aqueles com carteira assinada. Para autônomos e empregados, a proteção do INSS tem validade de 12 meses a partir da última contribuição. Ou seja, para quem parou de recolher à Previdência no início da pandemia, esse prazo chegou ao fim, e essas pessoas já estão desprotegidas. Se o trabalhador estiver buscando emprego, o prazo dobra, para 24 meses. E se contribuir há mais de dez anos, são 36 meses. Já para os contribuintes facultativos, como donas de casa e estudantes, por exemplo, a condição de segurado só se estende por seis meses após a última contribuição. Carência para benefícioPor isso, a recomendação é continuar recolhendo ao INSS, mesmo que seja apenas uma vez a cada seis meses, para manter o direito aos benefícios, explica Adriane Bramante, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP): — Para quem perdeu a condição de segurado, é preciso cumprir metade do período de carência exigido para voltar a ter direito aos benefícios. Já quem mantém a qualidade de segurado e havia cumprido a carência pode pedir o benefício quando precisar. No caso dos autônomos, por exemplo, em que o prazo para manter a condição de segurado é de 12 meses, a nova contribuição deve ser feita no 11º mês depois do último recolhimento. A partir daí, deve-se pagar a contribuição a cada seis meses, já que o trabalhador passará a recolher como facultativo. O valor da contribuição, porém, terá impacto no cálculo da aposentadoria: — O trabalhador pode recolher como facultativo sobre 11% ou 20% e sobre um salário mínimo ou mais. Mas os 11% dão direito apenas à aposentadoria por idade, e caso a nova contribuição seja sobre um salário menor, isso diminuirá o valor da aposentadoria — diz o advogado Luiz Felipe Veríssimo, especialista em Direito Previdenciário. Apesar do cenário de crise, técnicos do governo não cogitam alterar os parâmetros de carência do INSS. A avaliação interna é que mexer na lei seria uma mudança estrutural da legislação, enquanto a pandemia é um problema conjuntural. Há um entendimento de que, caso os prazos fossem ampliados, seria difícil voltar às regras mais duras, e a flexibilização acabaria se tornando permanente. Informais ficarão sem emprego e sem auxílioO teto de R$ 44 bilhões para a nova rodada do auxílio emergencial deixará de fora uma parcela de trabalhadores informais. De acordo com o governo, o benefício será pago a apenas um membro da família, no valor de R$ 250, durante quatro meses. Mulheres com filhos terão direito a uma cota maior, de R$ 375. Já pessoas que moram sozinhas receberão apenas R$ 150. No ano passado, foram pagas cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300, beneficiando 67 milhões de pessoas, a um custo de R$ 350 bilhões. Na nova rodada, devem ser mantidos os mesmos critérios de renda para ter direito ao auxílio: meio salário mínimo por pessoa da família (R$ 550) e até três salários mínimos (R$ 3,3 mil). Os dois requisitos serão aplicados de forma conjunta, ou seja, uma família de três pessoas com renda conjunta de três salários mínimos não poderá ser beneficiada, pois a renda individual, nesse caso, é superior a R$ 550 per capita. Segundo cálculos do movimento Renda Básica que Queremos, um em cada quatro brasileiros que receberam o benefício em 2020 não terão acesso os recursos este ano. A estimativa é que 17 milhões fiquem sem assistência no momento de piora da pandemia. Para a economista e professora da UFF Julia Braga, a tendência é o desemprego crescer e haver mais desassistidos: — Há uma parcela de pessoas que, se não estiver na nova rodada, vai estar desprovida de qualquer proteção social e tampouco conseguirá emprego formal. A taxa de desemprego continuará em dois dígitos nos próximos anos, porque os que antes não estavam procurando devem voltar a procurar. (Colaboraram Carolina Nalin e Geralda Doca) 

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Taxa de desemprego maior entre pessoas pretas é racismo estrutural, diz economista

A taxa de desemprego maior entre os jovens, pessoas pretas e pardas, mulheres e nordestinos revelada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD Contínua), confirma que o mercado de trabalho no Brasil é desestrutural e desigual. Toda vez que há uma crise a população mais vulnerável e em condições precárias são as dispensadas dos seus empregos, afirma a professora de economia e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), da Unicamp, Marilane Teixeira.

“O desemprego entre jovens, pessoas negras e mulheres não tem a ver com escolaridade, mas com racismo estrutural, a desconfiança e práticas racistas e sexistas. O padrão da elite da sociedade brasileira, que é quem emprega, é de contratar brancos, por que ainda têm uma visão do negro indolente, preguiçoso e pela aparência”, acredita Marilane.

De acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o recorde de desemprego atingiu 20 estados do país no ano passado, com destaques negativos para a região Nordeste, onde a taxa média chegou a 16,7%, acima da média nacional de 13,5%, a maior da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012. Em todas as localidades quem mais perdeu emprego e teve menos oportunidades foram os jovens, as pessoas pretas e as mulheres. Veja abaixo a evolução do desemprego nos estados.

O percentual de desemprego entre as pessoas pretas foi de 17,2%, enquanto a dos pardos foi de 15,8%, ambas acima da média nacional (13,9%). Já a taxa dos brancos de (11,5%), ficou abaixo da média. Entre as mulheres foi de 16,4% (também acima da média) e a dos homens ficou em 11,9%.

Em média, a taxa de desocupação de 2020 cresceu 1,62 ponto percentual em relação ao ano anteriormas entre pessoas pretas e pardas a alta foi maior, de 2,6 e 1,75 pontos percentuais, respectivamente.

Entre a população com faixa etária entre 18 e 24 anos, a alta em relação a 2019 foi de 2,85 pontos percentuais. Em 2020, 29,5% dessa parcela estavam desempregados, mais que o dobro da média nacional.

A economista Marilane Teixeira faz um paralelo com a crise econômica de 2015/2016 que, segundo ela, atingiu mais os setores da indústria e da construção civil, até em decorrência dos desdobramentos da Operação Lava Jato. Ao contrário da crise atual que atingiu mais o serviços, o comércio e os setores de hospedagem e de alojamento, com a necessidade do isolamento social. 

“Esta não é uma crise de demanda semelhante a 2015, com queda de renda e interrupção de atividades. Nesta crise há setores produtivos que vêm crescendo como a indústria farmacêutica, de alimentos e bebidas e o agronegócio. Hoje a crise atingiu setores mais heterogêneos, que não têm capacidade nem aporte financeiro para atravessar uma crise desta envergadura e , sem fluxo de caixa a primeira coisa que fizeram foi dispensar o trabalhador”, explica a economista.

Marilane identifica ainda que nesses setores que mais sofrem com a crise estão empregadas, em sua maioria, pessoas pretas, jovens e mulheres. Já nos estados do Nordeste em que houve recordes de desemprego são os setores de alojamento, hospitalidade e turismo, que são muito intensos na região.

“No Nordeste os empregos são mais precários porque as grandes corporações ainda estão muito concentradas na região Sudeste e o agronegócio está muito concentrado na região Centro-Oeste”.

Para a economista, quem está em outras ocupações, não deve voltar tão cedo ao mercado, como é o caso de vários setores de comércio, de bares e pequenos negócios.

Outro ponto fundamental para este aumento do desemprego foi o fim do auxílio emergencial de R$ 600, em dezembro passado. Sem renda, os mais pobres, as empregadas domésticas, os entregadores, o pedreiro por conta própria, antes protegidos com uma renda mínima do auxílio, foram obrigados a procurar emprego, aumentando os índices do desemprego.

Sem o auxílio essas pessoas engrossaram as estatísticas de desemprego. Em 2019, o país tinha 65 milhões de pessoas fora da força de trabalho e no ano passado mais 11 milhões se somaram a elas. Por isso, que pela primeira vez temos mais pessoas fora da força de trabalho do que ocupadas- Marilane Teixeira

Brancos empregados

Os brancos e classe média, diz, estão mais seguros, empregados no serviço publico, e os do setor privado, em home office com salários garantidos, analisa Marilane Teixeira.

Segundo ela, nas décadas de 1970/ 1980 era comum tentar justificar a forma de inserção em cargos e ocupações mais precárias com a baixa escolaridade, e que essas distensões salariais iriam se reduzir acentuadamente, mas a população jovem, especialmente a partir dos anos 2000, ampliou seu nível de escolaridade, tanto entre os brancos, como os negros, com ensino médio e superior completos, mas para os negros pouca coisa mudou por causa do racismo.

De acordo com a economista, em relação às mulheres, é comum a empregada doméstica ter curso superior e ter trabalhado antes no comércio e serviços, mas na fila do desemprego e nas crises, o empregador vai lá e escolhe o homem branco, acreditando que ele é mais eficiente do que elas.

“Há ainda os padrões estéticos de ‘boa aparência’ e esses atributos que definem os cargos a serem ocupados. A pessoa negra é a que está escondida atrás de uma máquina, repondo estoques e na limpeza, que é feita ao final do expediente, assim ninguém a vê”, diz.

Evolução do desemprego nos estados

De acordo com o IBGE, houve recorde de desemprego em 10 estados e no Distrito Federal, com destaques negativos para Bahia (19,8%), Alagoas (18,6%), Sergipe (18,4%) e Rio de Janeiro (17,4%).

FONTE IBGE

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